Sunday, September 25, 2005

Eu gosto e não gosto da minha escola

São fragmentos daquilo que os alunos duma das minhas turmas – 11º ano - escreveram. Fragmentos porque não era possível, nem desejável transcrever tudo. Importa ainda dizer que não se trata nem da radiografia do que pensa a turma, nem do que pensam os alunos no seu conjunto, porque não houve qualquer intenção estatística ou representativa a esse nível. É aquilo que é e vale o que vale. A palavra aos alunos. Sob anonimato.

«Em primeiro lugar deve-se dizer que a escola não é apenas um edifício, não é apenas um conjunto de espaços regidos por inúmeras regras e condições, não é simplesmente a construção da obediência nem da inteligência. É sim a abrangência da sabedoria acumulada da humanidade, um local de novas experiências, novos mundos, novos horizontes, metas e estradas a percorrer. Por conseguinte, uma escola deverá exigir tempo. Tempo de encontro, de encanto, de lazer, de arte, cultura, discussão, de ética e nomeadamente estética, de bem-estar, beleza e alegria. Por vezes nem sempre é assim pois o Homem – criador de tudo o que nos envolve, nomeadamente de uma simples escola - tanto tem em seu poder a criação e o embelezamento, como a destruição e a degradação da mesma.»

«A escola, na visão dos alunos, teria que ser perfeita, se possível o mais simples e o menos trabalhosa. Muitas vezes, o colega que está ao meu lado ou mesmo eu desconhecemos a importância e o porquê de frequentar a escola. [...] Eu gosto da minha escola, foi lá que encontrei e conheci grande parte dos meus grandes amigos. Foi também na escola que aprendi imensas coisas sobre o Mundo, as quais desconhecia.»

«Não gosto da minha escola porque tem horários muito complexos, não deixando muito tempo para os alunos se dedicarem a eles próprios. Não gosto ainda das horas de almoço muito monótonas (...) porque além de não haver música para animar as pessoas, há poucos espaços de lazer.»

«E onde reside a felicidade numa escola secundária? Não seria honesta e sincera se dissesse que a minha felicidade na escola se rege pelos manuais ou pelas equacções e fórmulas. Efectivamente, não. Seria necessário algo mais para que eu fosse plenamente feliz. E nesse espaço de felicidade que me faltava para ser feliz, encontrei professores com quem crio laços de amizade, que me apoiam quando preciso e que fazem da sua voz e sabedoria, mais do que um meio de nos ensinarem o que vem escrito nos manuais. As suas tarefas transformam-se em fórmulas de experiência, em lições de vida, em vozes de amigos. E não com menos importância que professores, achei os amigos e colegas com quem me reencontro todos os dias e partilho risos e tristezas, troco ideias e impressões. Amigos com quem posso falar e aprender a escutar. Amigos, quem sabe, de uma vida inteira.»

«Os aspectos negativos que a minha escola tem são horários maus em que a causa principal é 2h 15min de almoço desnecessários.»

«Na escola, eu não gosto que alguns professores e contínuos tratem uns alunos de uma forma e outros de outra.»

«O espaço que eu mais gosto na escola é a biblioteca. É agradável onde nos é permitido estar em contacto com a informação escrita (livros, jornais, revistas), com as tenologias (computadores, televisão) e com as pessoas que fazem parte da comunidade escolar. Eu não gosto do portão da entrada porque é de grades e isso faz-me lembrar uma prisão. Não gosto dos campos onde se faz educação física porque têm um aspecto muito betonizado e dos pátios porque têm poucas plantas. No que diz respeito às salas de aula, acho que têm cores tristes, as cadeiras e as mesas de algumas salas são muito pequenas e isso dificulta uma postura correcta e atenção ao decorrer da aula.»

«Uma das coisas que eu gosto na escola é a forma de pagamento. Como temos um cartão, não é necessário trazer dinheiro, evitando qualquer hipótese de furto ou intimidação dos alunos mais novos, podendo também evitar a compra de produtos não benéficos. Mas o que eu na realidade mais gosto é a bibliotecaque é ugar onde passo o tempo livre, onde posso desfrutar das mais variadas coisas... [...] Uma coisa que não gosto é haver discriminação entre alunos, isto é, existem alunos que marginalizam outros, só por serem diferentes, ou pela forma de vestir ou porque t~em outra maneira de estar, existindo muitos que pensam ser superiores.»

«Fascina-me pensar que os monges pisaram o mesmo chão que nós e que divulgaram a sua sabedoria cristã e instrutora do ponto de vista escolar, a qual ecoava pelas paredes que hoje nos rodeiam.»

«Não existem só coisas positivas na minha escola, existem também negativas e a que mais me incomoda é o facto das casas de banho estarem quase sempre sujas e cheias de fumo, em vez de estarem limpas para que todos as possam utilizar.»

«... acho que as aulas não deviam acabar às 17 horas e 30 minutos. É que, em vez de sairmos mais cedo, temos uma hora de almoço grande demais. [...] Outro do sproblemas mais intrigantes é o facto de que muitos alunos riscam as paredes e secretárias da escola e deitam o lixo para o chão. Esta atitude só degrada mais o estado da escola, que já não é nova.»

«Este ano, a comparar com o anterior, até melhorou. Para quem entrava às oito e meia e saía às cinco e meia todos os dias, uma tarde livre até dá jeito. O segundo ponto que eu acho importante nesta escola, que poderia mudar, é a quantidade de feriados que temos durante o ano, porque muitas vezes são matérias por dar e que se acumulam no fim do ano.»

«O local onde me divirto mais é na escola. Por isto a escola, para mim, é um local onde desejo estar. Mas também há coisa que não gosto numa escola, como, por exemplo, as aulas. Sei que nos são essenciais, mas mesmo assim não passam de ser uma seca.»

«Relativamente ao que gosto na minha escola, são as instalações, que são óptimas. Sobretudo uma parte das instalações que é muito importante, principalmente na área em que estou, os laboratórios. Considero-os bons locais de trabalho, neste caso, de trabalhos experimentais. Se assim não fosse, era complicado realizarmos as experiências, já que esta área exige a prática de trabalhos em laboratórios. E, acima de tudo, têm a segurança adequada no caso de ocorrer algum incidente.»

«Nestes 4 anos (...) as coisas que eu mais gostei (...) foram: as actividades que se faziam e os desportos que se praticavam, como por exemplo o tiro com arco, voleibol, basquetebol e futebol.»

«Em contrapartida há algo que eu não gosto na minha escola, algo que não tem a ver com a estrutura física, mas antes relacionada com a sociedade dentro da escola. O facto de os alunos se dividirem por bancos e de essa divisão interferir na relação entre os jovens. Há bancos, ou apenas cantos, “sítios”, que se destinam apenas a certos e determinados alunos: o banco do Pego, o da Chainça, o do Gavião, os pilares que ficam um pouco destinados às pessoas de Abrantes mas que é conhecido como o sítio dos betinhos e “populares”, e até uns cantos chamados “chungas”. Não que esta divisão esteja escrita em algum lado ou que haja letreiros a dividir as áreas destes grupos, mas isso não impede que existam e que uns rejeitem os “pilares” ou que os “pilares” rejeitem os outros, por exemplo. Ficamos assim um pouco prisioneiros no nosso “sítio”.»

«Eu não sei se gosto da minha escola. É certo que a minha realização pessoal depende dela, dado que um objectivo não se alcança sozinho, é necessária ajuda, vinda do estudo, professores, colegas, entre outros; no entanto, a realização pessoal (...) não depende só de um conjunto de estudos, depende também da nossa aderência a esse conjunto. Este facto remete para o gostar ou não do ambiente da escola. [...] ... o ambiente físico da escola está também a ser degradado. É que alguns alunos não respeitam o ambiente e não são capazes de manter uma escola limpa. Como exemplo, temos os chamados campos (onde se pratica educação física) que, por vezes, se encontram poluídos, chegando a haver pequenos montes de latas de refrigerantes e papéis. É necessário consciencializar os alunos desta escola para este facto, de modo a tornar o ambiente da escola mais agradável.»

«O ambiente entre os alunos é bom, mas há muita confusão, e a relação entre s e professores também é boa, de modo geral podemos falar abertamente com os professores. [...] De aspectos negativos temos o exemplo de algum pessoal não docente que por vezes não faz o seu trabalho como devia ser feito, beneficiando os seus conhecidos.»

«Antes de entrar para o liceu, não tinha muito boa impressão deste, contudo a minha opinião rapidamente mudou após suma semana do começo das aulas.»

«Outra coisa que gostaria de salientar é a falta de confiança entre professores e alunos. Para uma aula ser agradável, é necessária uma boa relação de confiança entre ambos, o que, muitas vezes, não acontece.»

«Há tempos em que nos sentimos encostados à parede, em que nos exigem mais e mais, em que o medo de um professor ou o medo de uma risada de um colega nos impede de participar livremente. Assim, a minha escola passou de um lugar de maravilha para um lugar de esforço e injustiça.»

«A forma como eu vejo a minha escola é apenas um instrumento à minha disposição. Ao ver o meu trabalho reconhecido e recompensado, tudo se torna belo, tudo se torna perfeito, até o mais burro professor ou a sala mais desconfortável. Pelo contrário, eu abomino tudo na minha escola quando olho à minha volta e vejo professores que apenas ali estão para receber o seu no final do mês, turmas com trinta alunos e salas insuficientes para tal, horários feitos somente para os professores...»

«A minha escola está longe, demasiado longe até, de ser a escola ideal. Resigna-se às actividades básicas de uma escola secundária, das quais nem todos os alunos estarão a par. Deste modo, esta escola não se destaca pela existência de algo inovador, diferente e aproveitado pelos jovens. O que desgosto profundamente nesta escola é a falta de mobilização dos alunos através da concretização de projectos ambiciosos e proveitosos para eles.»

«Acredito que uma escola se deve moldar segundo as necessidades dos jovens (...). Todavia, a maioria das vezes sinto que sou eu quem se molda a esse local de trabalho, estudo e lazer.»

«O grande valor de uma escola reside no facto de todos os princípios, valores e educação que os nossos pais nos transmitiram serem postos à prova no dia-a-dia de uma vida escolar. É principalmente durante este período que tudo aquilo em que até então vivíamos e acreditávamos é cimentado ou diluído, pois a sociedade escolar (amigos, colegas, professores, etc.) influencia-nos na formação da nossa personalidade e carácter. Este processo é por vezes difícil e mesmo doloroso pelo que talvez seja devido a isso que tantas pessoas não gostem nem nunca tenham gostado de frequentar a escola.»

«Estando aqui já há quatro anos, afeiçoei-me a ela, ao edifício que, apesar de um pouco degradado, me traz recordações dos bons e maus momentos que aí passei nos anos anteriores, e sobretudo as pessoas que me acompanharam ao longo desses anos.»
«As infra-estruturas é óbvio que não são as melhores, mas pessoalmente isso não é o mais importante, primeiro porque o que torna uma escola boa é a ligação entre os alunos, professores e contínuos. E segundo porque nos devemos habituar a enfrentar todas as situações e decerto que ao longo da nossa vida iremos nos deparar com infra-estruturas idênticas ou piores.»

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